Uma das causas da baixa retenção do aprendizado está na forma como os conhecimentos são apresentados. “O cérebro pode ouvir alguém falar por 90 minutos, mas só vai absorver 20 minutos da conversa”.
Isso indica uma preocupação em relação a estrutura das aulas e como isso é proposto aos alunos. Qual o caminho para que os objetivos de aprendizagem sejam atingidos?
De acordo com a neuropsicologia, o processo de aprendizagem acontece, primeiro, quando um ou mais de nossos sentidos (de preferência todos), são acionados.
Quanto mais presente essa fase da sensação, com a utilização de um ou mais sentidos para aprender algo, melhor e mais rápido será o processo de aprendizagem, assimilação de conteúdo e fortalecimento da memória de longo prazo (aquela na qual o que é aprendido demora bastante para cair no esquecimento).
Assim, aulas, palestras ou cursos que permitam aos alunos o acesso às sensações e que coloque-os no centro do processo de construção do conteúdo serão, indiscutivelmente, mais eficazes para o aprendizado.
Criar estratégias que acionem todos os tipos de sentido: atividades hands on, resolução de problemas, contação de histórias e cases, usar vídeos ou podcasts como recursos é fundamental para efetividade das aulas. E para isso, é fundamental conhecer o conceito de metodologias ativas.
Esse tipo de metodologia têm ganhado maior espaço já que a melhor forma de aprender é combinando, equilibradamente, atividades, desafios e informação contextualizada (que faz parte da realidade/cotidiano dos alunos). Podemos dizer que as metodologias ativas são práticas que têm como objetivo colocar o aprendiz no centro do processo de aprendizagem e fazê-lo participante ativo do desenvolvimento de conteúdos e competências. Assim, a aprendizagem por descoberta, investigação ou resolução de problemas são meios importantes para gerar aprendizagem.
Para tanto, o trabalho desenvolvido a partir desse tipo de metodologia deve ser colaborativo, promover o desenvolvimento da habilidade de trabalhar com outro(s) colaboradores(s) formando pares ou grupos maiores e, também, estimular o estudo individual, de acordo com os interesses e o ritmo de cada um e o objetivo da aula.
Você, como professor ou mediador, pode estimular a discussão e propor desafios aos alunos, conduzindo esses processos quando necessário e sugerindo caminhos ou materiais úteis em cada situação.
Os desafios bem planejados podem contribuir para mobilização de competências de diferentes naturezas: intelectuais, emocionais, pessoais e comunicacionais. Exigem pesquisar, avaliar situações, pontos de vista diferentes, fazer escolhas, assumir alguns riscos, aprender pela descoberta, caminhar do simples para o complexo.
Independentemente do caminho adotado, é muito importante que você incentive o aprender ativo com problemas, desafios relevantes, jogos, atividades e leituras, combinando tempos individuais e tempos coletivos; projetos pessoais e projetos de grupo.
As metodologias ativas procuram criar situações de aprendizagem nas quais os alunos possam fazer coisas, pensar e conceituar o que fazem, construir conhecimentos sobre os conteúdos envolvidos nas atividades que realizam, bem como desenvolver a capacidade crítica, refletir sobre as práticas que realizam, fornecer e receber feedback, aprender a interagir com colegas e facilitadores e explorar atitudes e valores pessoais.
As aulas podem, ainda, envolver uma combinação de atividades e a gamificação. Você pode, por exemplo, solicitar a leitura compartilhada de um material e, depois, entregar um problema para que os alunos pensem e criem uma solução. De acordo com o número de atividades, você pode criar missões (objetivos) e pontos específicos que levarão a uma conquista final. Essa conquista poderá envolver o ganho de medalhas e a classificação em um ranking.
Metodologias ativas em contextos híbridos – que integram momentos presenciais e online, espaços físicos e digitais – trazem mais mobilidade, possibilidade de personalização, flexibilização de tempos e espaços para ensinar e aprender. As plataformas digitais caminham para adaptar-se mais às diversas necessidades dos aprendizes e facilitadores, disponibilizando funcionalidades como fóruns, webinários, blogs, mensagens, inclusão de materiais em diferentes formatos e armazenamento de materiais em uma biblioteca virtual.
Como exemplos de metodologias ativas podemos citar: aprendizagem invertida, aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em times, aprendizagem baseada em narrativas, aprendizagem baseada em jogos, gamificação, estudos de caso, dramatização, simulação, painel de debate.
Em resumo, seguem algumas indicações para elaborar uma sequência didática usando uma metodologia ativa:
- Procure criar atividades que envolvam as diferentes sensações dos seus alunos.
- Intercale momentos de trabalho individual e em grupo.
- Procure citar exemplos e construir situações problemas que façam parte do cotidiano dos alunos. Convide-os a resolver problemas, a pesquisarem, a participar ativamente da aula e a vivenciarem, na prática, o que estão aprendendo.
- Elabore, quando possível, atividades que envolvam a investigação, a descoberta, o estudo de casos e a resolução de problemas.
- Procure dar feedbacks e feedforwards constantes sobre a metodologia e a atuação e interação dos seus alunos, indicando erros, possibilidades e progressos.
Para refletir: protagonismo ou autodidatismo?
A onda de metodologias ativas, cultura maker/hands on traz a ideia e a necessidade do protagonismo do aprendiz. No entanto, em alguns contextos, esse protagonismo pode adquirir um significado ingênuo ou até errado do papel do aprendiz durante as aulas (e isso vale para aulas presenciais, metodologias híbridas ou à distância).
Isso pode estar associado à confusão entre os termos: protagonismo e autodidatismo. Quando falamos de autodidatismo, estamos falando de um indivíduo que, sozinho, consegue buscar e entender o material necessário para a sua aprendizagem. Faz a leitura, segue as instruções de um curso, aprende, identifica e esclarece as próprias dúvidas e, então, torna-se, sozinho, responsável pela sua aprendizagem.
O protagonismo está associado ao recebimento de orientações, à presença de alguém que o instigue a aprender, apresentando situações, desafios, problemas, mediando os percursos de aprendizagem e, principalmente, dando feedbacks sobre o que está sendo feito. Assim, o aluno terá autonomia e protagonizará o caminho de sua aprendizagem desde que tenha alguém para mediar o processo. Ou seja, não adianta pensar que a responsabilidade do professor é elaborar o material de uma aula ou de um curso e a do aprendiz é fazer tudo sozinho depois que o material estiver disponível.
O grau de protagonismo e autonomia é particular para cada um. Alguns preferem instruções mais precisas, específicas, outros mais gerais. Da mesma forma, uns preferem ser desafiados, gostam de atividades com alto nível de complexidade; outros preferem resolver tarefas determinadas pela instrução exata do professor. O importante é que as orientações sejam claras e que haja um acompanhamento: estimulando conversas, pesquisas, interações, esclarecendo dúvidas sobre o material ou a metodologia, indicando novas leituras, propondo novos desafios ou questões, permitindo e instigando o aluno a pensar, ouvir e debater as suas ideias durante os diferentes momentos de uma aula ou sequência didática.
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Bibliografia consultada:
MORAN, J. Metodologias ativas de bolso: como alunos podem aprender de forma ativa, simplificada e profunda.São Paulo: Editora do Brasil, 2019.
SARMENTO, M. (coor). O futuro alcançou a escola? São Paulo: Editora do Brasil, 2019.
MORAN, José. Educação híbrida: Um conceito- chave para a educação hoje. In BACICH, Lilian; Neto, Adolfo Tanzi; DE MELLO TREVISANI, Fernando (Orgs). Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, p. 27-45, 2015.E CRUZ, P.E.de O. Metodologias ativas para educação corporativa. Prospecta, 2018. E-book.